Quando li, ou melhor, ouvi a sábia e visionária frase de Rui Barbosa:
Mal sabia eu o quanto o Águia de Haia estava certo.
Em tempos que impera a “Lei de Gerson”, ser honesto tornou-se sinônimo de ser otário.
O normal é dar o famoso jeitinho. Andar na linha é coisa pra gente “tan-tan”. Aliás, você sabe de onde surgiu a expressão Lei de Gerson?
Ela é um desses fenômenos da cultura de massa. Tudo começou com um comercial dos Cigarros Vila Rica. Veiculada em 1976 (barbaridade isso faz é tempo...) a propaganda trazia o meio campo Gerson, um dos jogadores de fundamental importância para a conquista da Copa do Mundo de 70, falando sobre as vantagens da dita marca de cigarros. A idéia principal do anúncio era transmitir ao espectador que ele estava sendo uma besta ao fumar outra marca. E tudo começava assim: “É gostoso, suave e não irrita a garganta.” Continua : “Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro?” E para fechar com chave de ouro, surgi no apagar das luzes a pérola resplandescente: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo?” Não bastasse as palavras, a expressão maliciosa do ex-craque dizia tudo. Dá uma conferida aí no vídeo...
Era um momento em que se pensava o nacionalismo em parâmetros bem diferentes. Havia um orgulho verde-amarelo e uma megalomania alimentada pela ditadura. Nesse contexto, um herói nacional como o tricampeão Gerson ( já ia esquecendo da frase final do comercial) solta sua frase mais famosa: "Você gosta de levar vantagem em tudo, certo?" A propaganda não teve uma interpretação pejorativa na época, mas depois virou lei.
Nunca deveria ter virado.
A identidade brasileira não deveria ter sido atrelada ao estereotipo da malandragem, da falta de ética.
O tirar vantagem não se resume apenas a malevolência do brasileiro. Ele criou raízes profundas, que perpassam pela desonestidade, mal caractismo e desonra. O mundo seria outro se as pessoas valorizassem a palavra dada, empenhada. Honrassem verdadeiramente seu próprio eu, antes de reverenciar o que habita no outro. Ser honesto consigo mesmo é o grande desafio. Afinal, para enganar o outro se arquiteta mil e umas traquinagens.
Mas é para enganar a si mesmo, como se faz?
Esta é a verdadeira escaramuça. Algo totalmente impossível de ser realizado. Ninguém consegui si enganar. Por mais que finja ou represente um papel, chegará o dia em que nenhuma máscara será capaz de manter seu faz de conta. Tudo se torna um auto-retrato, em preto e branco. Uma realidade ser cores, brilho ou referencial.
O “jeitinho” permeou todos os campos do convívio humano, tornando-se a hipocrisia, a trivialidade do milênio.
Qualquer um já se deparou com situações e pessoas assim. Gente que fala horas e horas sobre medidas preventivas no combate à dengue, e que em sua própria casa tem pneus velhos exposto no quintal. Ou aquele juiz que condena 10 jovens que dirigiam embriagados e dá “carteirada” para tirar o próprio filho de uma situação exatamente igual.
É isso que o tal jeitinho propaga, dois pesos, duas medidas.
Lições desprovidas de qualquer moral.
Lições que Rui Barbosa já nos transmitia no século passado.
...Acreditei que era um pouco exagerada.“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”
Mal sabia eu o quanto o Águia de Haia estava certo.
Em tempos que impera a “Lei de Gerson”, ser honesto tornou-se sinônimo de ser otário.
O normal é dar o famoso jeitinho. Andar na linha é coisa pra gente “tan-tan”. Aliás, você sabe de onde surgiu a expressão Lei de Gerson?
Ela é um desses fenômenos da cultura de massa. Tudo começou com um comercial dos Cigarros Vila Rica. Veiculada em 1976 (barbaridade isso faz é tempo...) a propaganda trazia o meio campo Gerson, um dos jogadores de fundamental importância para a conquista da Copa do Mundo de 70, falando sobre as vantagens da dita marca de cigarros. A idéia principal do anúncio era transmitir ao espectador que ele estava sendo uma besta ao fumar outra marca. E tudo começava assim: “É gostoso, suave e não irrita a garganta.” Continua : “Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro?” E para fechar com chave de ouro, surgi no apagar das luzes a pérola resplandescente: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo?” Não bastasse as palavras, a expressão maliciosa do ex-craque dizia tudo. Dá uma conferida aí no vídeo...
Era um momento em que se pensava o nacionalismo em parâmetros bem diferentes. Havia um orgulho verde-amarelo e uma megalomania alimentada pela ditadura. Nesse contexto, um herói nacional como o tricampeão Gerson ( já ia esquecendo da frase final do comercial) solta sua frase mais famosa: "Você gosta de levar vantagem em tudo, certo?" A propaganda não teve uma interpretação pejorativa na época, mas depois virou lei.
Nunca deveria ter virado.
A identidade brasileira não deveria ter sido atrelada ao estereotipo da malandragem, da falta de ética.
O tirar vantagem não se resume apenas a malevolência do brasileiro. Ele criou raízes profundas, que perpassam pela desonestidade, mal caractismo e desonra. O mundo seria outro se as pessoas valorizassem a palavra dada, empenhada. Honrassem verdadeiramente seu próprio eu, antes de reverenciar o que habita no outro. Ser honesto consigo mesmo é o grande desafio. Afinal, para enganar o outro se arquiteta mil e umas traquinagens.
Mas é para enganar a si mesmo, como se faz?
Esta é a verdadeira escaramuça. Algo totalmente impossível de ser realizado. Ninguém consegui si enganar. Por mais que finja ou represente um papel, chegará o dia em que nenhuma máscara será capaz de manter seu faz de conta. Tudo se torna um auto-retrato, em preto e branco. Uma realidade ser cores, brilho ou referencial.
O “jeitinho” permeou todos os campos do convívio humano, tornando-se a hipocrisia, a trivialidade do milênio.
Qualquer um já se deparou com situações e pessoas assim. Gente que fala horas e horas sobre medidas preventivas no combate à dengue, e que em sua própria casa tem pneus velhos exposto no quintal. Ou aquele juiz que condena 10 jovens que dirigiam embriagados e dá “carteirada” para tirar o próprio filho de uma situação exatamente igual.
É isso que o tal jeitinho propaga, dois pesos, duas medidas.
Lições desprovidas de qualquer moral.
Lições que Rui Barbosa já nos transmitia no século passado.