segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Sobre ocupações e responsabilidades

Na madrugada deste domingo (27 de novembro), a Polícia Militar de Ilhéus (BA) foi acionada por seguranças da Universidade Estadual de Santa Cruz(UESC), que detiveram um integrante do movimento “OCUPA UESC”. O rapaz, que identificaremos aqui pelas iniciais V.S.D, de 19 anos, foi preso por ter arrombado a sala dos professores do curso de enfermagem do pavilhão Jorge Amado e furtado um notebook, uma garrafa térmica, uma caixa de lápis e duas bolsas. O homem foi conduzido a DP sob resistência de alguns integrantes do movimento, que de acordo com a polícia, aparentavam estar sob efeito de entorpecentes. As informações são do site Vermelhinho da Bahia




Em vários comentários, alguns integrantes do movimento de ocupação da UESC declaram que o suspeito não é estudante daquela instituição. Porém, elucidar o que ocorreu fazendo uso dessa singela explicação, não é suficiente para eximir ninguém da responsabilidade pelo ocorrido. Esse episódio serve para levantarmos uma questão realmente relevante sobre tais ocupações: Como podem garantir a integridade física dos membros do movimento se nem ao menos aparentam ter controle sobre a origem dos indivíduos que lá estão?
A pouco mais de um mês, a morte de um aluno secundarista, assassinado por um colega, dentro de uma escola no Paraná, chocou o país. Esse fato por si só já seria o suficiente para colocar em xeque toda a estruturação do movimento.
Mas não foi. O episódio foi tratado como um mero acerto de contas entre dois adolescentes que se desentenderam após consumirem entorpecentes. Simples assim. Afinal, a sujeita tem que ser varrida para baixo do tapete. Justiça para a família do falecido? Para os pais que perderam seu filho? Utopia. Afinal, ele era apenas mais um jovem manipulado por um movimento esquerdista, um pião em um gigante tabuleiro de xadrez.
E o jogo continuou...
Já faz meses que o Brasil se depara com as ocupações em escolas e universidades públicas país a fora. Defendendo posições contrárias à PEC 55, ao projeto de reforma do ensino médio e à escola sem partido, estudantes continuam amotinados em unidades educacionais por todo território nacional.
Os jovens correspondem hoje a 1/4 da população do país. 
Isso significa 51,3 milhões de jovens, entre 15 a 29 anos vivendo, atualmente, em território brasileiro, distribuídos da seguinte forma: 
  • 84,8 % nas cidades
  • 15,2 % no campo. 
No Censo 2010 (último censo demográfico realizado no país), que teve os dados divulgados em abril de 2014, descobriu-se que:
  • 53,5% dos jovens de 15 a 29 anos trabalham 
  • 36% estudam
  • 22, 8% trabalham e estudam simultaneamente
De acordo com dados do Censo da Educação Superior 2013, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2014, o Brasil registrou 7.305.977 milhões de estudantes matriculados em instituições de ensino superior - IES. Fazendo um simples cálculo, somando a proporção de jovens que estudam (36%) com aqueles que estudam e trabalham (22,8), chegamos a um total de 58,8% de jovens que apenas estudam ou estudam e trabalham. Fazendo um rápido arredondamento, poderíamos dizer que aproximadamente 60% dos 52 milhões de jovens brasileiros encontram-se em fase de formação intelectual. Isso corresponderia a 31,2 milhões de pessoas.
Dessa fatia, aproximadamente 7 milhões estão matriculados em IES. 
Veja bem, 7 milhões dos 32 milhões que estudam ou estudam e trabalham! 
Isso significa que 21% estão em IES. 
Os outros encontram-se em outros tipos de instituições, como cursos técnicos.
Aprofundando um pouquinho mais, devemos levar em consideração que as Instituições de Ensino Superior podem ser públicas ou privadas.
Em 2013 havia cerca de 1,8 milhão de alunos matriculados nas IES da rede pública (28,8%) e 4,4 milhões de alunos em instituições privadas (71,2%), totalizando 6,1 milhões de matrículas.
Caso mantivéssemos essa mesma proporção, aplicando-a aos dados registrados em 2014, (30:70), chegaríamos à conclusão que somente 1/3 dos jovens que estuda e/ou estuda e trabalha estão matriculados em rede pública. Isso implica dizer que dos 7 milhões de jovens, somente 2,3 milhões estão em Instituições de Ensino Superior da rede pública.
Voltando aos primeiros dados sobre os quais falei, e ainda seguindo o mesmo raciocínio, chegamos à conclusão de que dos 52 milhões de jovens atuais, apenas 4,4% deles estão, possivelmente, estudando em alguma Instituição de Ensino Superior que foi ou encontra-se OCUPADA. Levando-se em conta que as ocupações não tem o apoio da totalidade dos estudantes, podemos dizer que uma minoria encontra-se ditando o destino de todos.
Voltando à notícia divulgada o inicio deste texto. 

Dizer que ninguém tem culpa pelo ocorrido me lembra as regras da Oração sem sujeito, aquele tipo de classificação sintática, onde a ação descrita na oração não pode ser atribuída a nenhum ente, agente ou sujeito. Ora, se vale para a chuva, por que não poderia servir como uma “explicação” para os casos ocorridos nas ocupações? Seriam eles meros acidentes de percurso? Falhas da sociedade? Algo como alguém que escorrega na rua e morre?
O que vemos hoje são jovens que se consideram mais “críticos” por obedecerem a um comando central, seguindo a cartilha repleta de slogans repetidos roboticamente. Apesar disso, não podemos deixar passar batido o fato de que as invasões foram contra a PEC 55 (ex-241), que limita os gastos públicos, e contra as próprias reformas educacionais que estes mesmos movimentos estudantis apoiavam quando Dilma Rousseff era presidente, incluindo a MP 746, que institui o ensino integral nas escolas.

Curiosamente, os jovens que queriam implantar o ensino integral para melhorar nossa péssima educação, hoje o repudiam por tomar-lhes muito tempo. Parece que, ao terem em vista a concretização da reforma, a proposta pareça-lhes menos interessante. Ainda mais curiosamente, ocupam escolas em tempo integral, pelo direito de terem mais dinheiro público “investido” sem precisarem estar na escola em tempo integral. Um dualismo estranho e desconexo. Uma cegueira sem precedentes.
Esta é apenas uma das infinitas contradições desses jovens. Uma pergunta que todos deveriam fazer, por exemplo, é: Por que todo esse antagonismo contra propostas antes exigidas por eles próprios, vem atrelado a outras exigências bem pouco familiares às causas educacionais, como por exemplo a desmilitarização da polícia, a legalização do aborto ou a descriminalização das drogas?
Mas viva a liberdade! 
Abaixo o fascismo! 
Racista!
Homofóbico!
Xenofóbico!
Fora Temer!
Para os ocupantes isso já é o suficiente para justificar tudo.
Ninguém é responsável por nada, sejam estudantes, professores, líderes estudantis, sindicalistas...
Muito menos exigirão responsabilidade dos partidos políticos, sabidamente envolvidos em “ocupações”. Como se a tomada de um espaço público, novamente atentando-se para a linguagem, fosse o mesmo que a “ocupação” de uma carteira escolar. Trata-se de uma invasão, um crime em si, que nunca é tratado como tal, nem mesmo juridicamente.
Sem saber o que estão fazendo, e atraídos por um discurso goebbelsianamente repetido, prometendo um atalho hedonista, recheado de eterno prazer, satisfação de desejos pueris em loop infinito, acreditando posicionarem-se contra a autoridade quando enaltassem uma autoridade suprema, para supostamente destruir a tirania anterior, esses jovens invasores não conseguem explicar em números, dados e fatos, o que estão fazendo, a mando de quem e porque, convertendo-se em meras peças de um imenso culto à irracionalidade absoluta.
Infelizmente, para a mentalidade esquerdista dominante sobretudo no jornalismo, no meio acadêmico, na classe artística e entre os jovens partidários das ocupações, o dinheiro para educação, a dilapidação e destruição do patrimônio público ou uma facada parecem surgir do nada, como um passe de mágica, sem ter alguém que tenha criado as condições ou a ação que deixará vultuosos danos financeiros aos cores públicos ou um lugar vazio na mesa de uma família para sempre.


Links

Link para notícia sobre dados da Juventude no Brasil - Censo 2010

Link sobre estatísticas do ensino superior no Brasil
http://www.brasil.gov.br/educacao/2014/09/ensino-superior-registra-mais-de-7-3-milhoes-de-estudantes

Link para pesquisa sobre distribuição do ensino superior no Brasil, em rede pública e privada

Link para notícia sobre furto na UESC
http://vermelhinhoba.com.br/2016/11/27/integrante-do-movimento-ocupa-uesc-e-preso-apos-arrombar-sala-e-furtar-objetos-na-universidade/

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