domingo, 27 de setembro de 2009

Revirando o Baú

Muita gente crê na antiga máxima :“Quem vive de passado é museu.” E sob certos aspectos até que a citação está correta. Vamos imaginar que em matéria de história, não existe descrição melhor. Teorias e máximas à parte, analisar a evolução humana pode ser considerada uma das melhores (se não a melhor) forma de entendermos o que somos hoje. Há alguns posts atrás, falei sobre a carga de significados que se encontra atrelada a um comercial, uma propaganda. Hoje vou mostrar como evoluímos em explorar uma imagem. Em 1958, exatamente há 51 anos, marcas como Omo, Nescau, Kolynos (agora Sorriso), Ninho, Toddy, Palmolive, Cônsul, Goodyear, Walita e Ovomaltine anunciavam assim:




Agora os anúncios são assim:




Repararam nas diferenças? São muitas. Mas a principal de todas está na redução de informações. As propagandas antigas preocupavam-se em descrever o produto, enaltecendo suas qualidades e benefícios. Hoje, a propaganda passou a um estágio meramente interpretativo. Graças aos pequenos slogans e a excessiva valorização da imagem, é possível transmitir diversas mensagens a diferentes públicos. É como se o objetivo fosse fazer com que o produto crie uma imagem para cada pessoa. Cada um imagina diferente. No final as diferenças são o que acaba por fomentar o consumo do produto. As propagandas do século passado não davam muita margem a este tipo de mecanismo. Elas buscavam a objetividade, clareza, evidência. Era com atirar num alvo parado. Hoje os “tiros” são mais estilo “O Procurado” (filme com Angelina Jolie e Morgan Freeman). Pode parecer bobagem comparar o antigo com o novo. Mas é assim que entendemos como a mente humana avança ou retrocede (depende do seu ponto de vista). Ah, mas a coisa não para por aí. Sabiam que muito do que falamos hoje, tinha ou tem outra denominação? Vou falar agora de uma coisinha chamada Figura de Linguagem. Em foco aqui, a Figura chamada Metonímia. Esta categoria se subdivide em mais de 14 tipos. Mas, em se tratando de propaganda, vamos falar da subdivisão chamada: Marca pela coisa ou produto. É aqui que entram:

Maisena
Gilete
Bombril

Cotonete

Q-boa
Xerox

Lycra

Chiclete (chiclets)

Isopor

Leite Moça

A propagação destas marcas tornou-se tão massiva que seu nome passou a ser adotado como sendo o próprio nome do objeto. Isto é Metonímia pura. Tanto que soa estranho quando alguém se refere a um desses produtos por seu nome verdadeiro:

Amido de Milho (Maisena)
Lâmina de Barbear (Gilete)
Lã de aço (Bombril)
Haste flexível com pontas de algodão (Cotonete)
Água Sanitária (Q-Boa)
Fotocópia (Xerox)

Elastano (Lycra)

Goma de mascar (Chiclete)

Poliestireno Expandido (Isopor)
Leite Condensado (Leite Moça)

São muitos os exemplos desse tipo de Metonímia que fazem parte do nosso cotidiano. O mais curioso, porém fica por conta da Xerox, que, assustadoramente, acabou evoluindo de mera Metonímia para um tipo andrógeno de derivação imprópria. É mais ou menos como se ela tivesse assumido ares de substantivo gerador de um verbo: Xerocar. Vide aqueles que falam: “Vou xerocar tudo.” Este é o verdadeiro poder do Marketing. Alguns teóricos da língua sugerem que mecanismos como este fazem parte da evolução lingüística. Outros o taxam de retrocesso. Se é atraso ou avanço, você decide. O fato é que já foi mais do que implementado em nossas relações cotidianas. Tudo graças à força da cultura de massa.

Obs: Todas as imagens das propagandas antigas fazem parte do acervo visual da Rede Mundo Melhor.

12 comentários:

K disse...

Show!!! super informativo.
Sabia que eu adoro propagandas antigas, principalmente a lembrança do que passei naqueles anos!
E não é só saudosismo, é saudade!
Beijo

Daniela Figueiredo disse...

Oi, Bárbara.
Adoro estas propagandas antigas, tenho um certo fascínio pelo retrô. Fora a nostalgia que sinto ao rever algumas propagandas da minha infância. As propagandas usam a linguagem da época, tudo muda com o passar do tempo, até os nossos gostos. Adorei o post!
Beijos.

mfc disse...

A transformação da publicidade é uma arte tratada com uma minúcia extrema e tem produzido resultados...

X disse...

Nossa quanta difereeença!!
haha
Mas, as antigas propagandas tbm tinham sua beleza!!!
bjuus
Bárbara

A Língua Nervosa disse...

Bárbaraaaaaaa
que aula foi essa?
nem vi tocar o sinal!!!!
Qta diferença dessas propagandas hein...e do modo de encarar seus clientes...cada vez mais exigentes!
só acho uam pena porque as propagandas antigas destacavam o valor do produto...agora passou a ser tudo uam questão de poder...estilo de vida...que às vezes nem é verdadeiro ou saudável!
tudo passou a ser uma jogada de valores...de comércio!
q pena...
beijossssssss

Anônimo disse...

Como os tempos mudam não é msm? Está certo que não é a proposta de seu texto, mas vale lembrar aqueles comerciais nada politicamente corretos de crianças para marcas de cigarros!!!

Abraços!

http://tempo-horario.blogspot.com/

http://twitter.com/brunobaxter

Lêda Maria disse...

Ow Barbara,um show de conteudo isso aqui,parabéns :)

Paulo Tamburro disse...

BARBARA,tinha que vir da Bahia.

Não bastasse o acarajé, caruru, a patola de siri, o efó, vatapá, bolinhos de moqueca , aquele outra delícia que é um ensopado de peixe com dendê e leite de coco e para arrematar,um quindim, beijus de tapioca e as famosas cocadas.

Nossa!

Não bastasse, tudo isso, ainda existe uma Barbara Bastos na Bahia.

Explode coração!

E muito mais, pois serei exatamente, o seu seguidor número 100.

Sem falsa modéstia BARBARA, mais o número e expresivo, concorda? E sou eu!!!(rs).

BARBARA,então o que falta nesta festa?

Comentario, não é? Chega de enrolação(rs).

Olha seu blog é uma peça artesanal belíssima, bordado com a competência das rendeiras de Bilro.

Poderia ser tranquilamente, emoldurado e pendurado na parede, como uma merecida obra de arte em cultura, criatividade, leveza e humor.

Priscas eras (êpa!), a propaganda queria que você soubesse até o nome do empregado que colocou a pasta de dente dentro do tubo.

Hoje, ela só quer que você se lembre da marca.

É incrivel como a Coca-Cola e a Nike, por exemplo, transformaram seus produtos em meros simbolos.

Neles nem precisam estar escrito o nome , basta que você veja o símbolo e imediatamente o associa ao produto.

Tudo basedao no Arco Reflexo Pavloviano, o popular: reflexo condicionado!

A necessidade de massificação ao extremo,no entanto, tirou o romantismo da propaganda.

Hoje são até muito mais criativas e têm à sua disposição um arsenal tecnológico invejável e de ponta,pois a informática é um divisor de água, o Photoshop, enfim...

Mas, BARBARA, nos bondes antigamente, tinha uma propaganda extraordinária - na década de 50, por aí - que na minha opinião é a campeão da saudade, era um "reclame" ( que palavra!) do Rhum Creosotado, um famoso xarope da época que dizia assim:

"Veja ilustre passageiro
O belo tipo faceiro
Que o senhor tem ao seu lado.
E no entretanto acredite
Quase morreu de bronquite,
Salvou-o RHUM CREOSOTADO".

O mais espetacular BARBARA é que era descrito, com a palavra "entretanto",mesmo, pode pesquisar!

Parabéns pelo seu blog, é muito comum os cariocas gostarem bastante dos mineiros e baianos - enfim, todos são bem vindos ao Rio - mas você invadiu minhas recordações com a garndeza do Farol da Barra!

Um abração e estarei sempre aqui.

Lou disse...

Oi!
Adorei seu blog, de verdade!
"E o vento levou" é um dos meus filmes favoritos!
:)

Sobre o seu post, sou historiadora e amo estudar propaganda. É bem isso que vc escreveu, só não concordo com a questão da evolução e do retrocesso.
Beijos e está" linkada"!

Deni Maciel disse...

pra nao dizer q sou tão véio assim [23 anos]
eu sólembro das coisas do nescau pra baixo
kkkkkkkkk
excelente post...
só faltou um video do youtube com coisas dos anos 80/90

um abraço.
ótima quinta.
e lembre-se.
Dizer a verdade é igual exame de próstata....pode doer...ferir...mas é pro bem da vítima...ops pessoa . ..
e quem planta maconha...dá CANA...
xD~
Fui.se não apanho de tanto escrever bobagis

Dila disse...

Amei aquela da "Kolinos", as meninas olhando os dentinhos no espelho..rsrsrs Muito fofo!!!!

vim retribuir dua visita!!
bjs flor!!!

Júlia Mello disse...

Muito interessante mesmo. Estudei isso na faculdade, quando fiz Artes Gráficas. A força da propaganda é mesmo incrível, mesmo as mais subjetivas, com valores super subliminares...

Já reparou com a maioria das propagandas mais antigas eram direcionadas pro público feminino? As que ficaram mais famosas, que são visualmente mais elaboradas, sempre têm aquelas moças que lembram pin-ups. E atreladas a mensagens machistas...
Mas que são muito bonitas, não dá pra negar!

Bjos!

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