domingo, 10 de maio de 2009

Smells like a teen spirit


Perfumes. Eles estão sempre no ar. Por todos os lugares, em todas as ocasiões. Uma verdadeira obsessão, que o diga Jean-Baptiste Grenouille, o assassino do filme “O Perfume”.
Smells like a teen spirit é uma das mais famosas canções do Nivarna. Traduzindo seu título, temos a frase: Cheira à Espírito Adolescente. A música evoca memórias adolescentes e tem em seu título uma história bem interessante. "Teen Spirit": é um desodorante feminino (que a namorada de Kurt usava). Uma amiga de Kurt pichou "Kurt Smells Like Teen Spirit" na parede. Como ele não sabia da existência do desodorante, achou a frase poética. “Smells like a teen spirit” virou ícone do hit parede.
Podemos dizer que a história do uso e descoberta dos aromas acompanhou a própria evolução da humanidade. Nos tempos mais remotos, os homens invocavam os deuses por meio da fumaça, queimando ervas, que liberavam diversos aromas. Foi assim que surgiu a palavra "perfume", em latim "per fumum", que significa "através da fumaça".
A história do perfume remonta há três mil anos e as lendas que envolvem sua criação vão mais longe ainda. Foi na Índia e na Arábia que surgiram os primeiros mestres da perfumaria. Ali já havia sido criada a água de colônia, obtida pela maceração de pétalas de rosas. Os árabes não só compreendiam e apreciavam os prazeres dos perfumes, mas também tinham conhecimentos avançados de higiene e medicina, quem já leu “O físico” sabe muito bem do que estou falando. Eles produziram elixires partindo de plantas e animais com propósitos cosméticos e terapêuticos. Por volta do século X, Avicena descobriu a destilação dos óleos essenciais das rosas, e assim criou a Água de Rosas.
Os perfumes fizeram enorme sucesso durante o século XVII. Luvas perfumadas ficaram populares na França e em 1656, a associação de fabricantes de luvas e perfumes estabeleceu-se. O uso de perfumes na França cresceu assustadoramente. O tribunal de Louis XV até foi nomeado "O Tribunal Perfumado" devido aos cheiros que diariamente, não só eram aplicados à pele, mas também para vestimenta e mobília, um luxo!

Mulheres sufocadas em espartilhos, perfumadas com aromas discretos e suaves. O século XVIII assistiu a um revolucionário avanço na perfumaria com a invenção da Água de Colônia ou "Eau de Cologne". Esta mistura refrescante de alecrim, néroli, bergamota e limão era usada por uma multidão de diferentes modos: diluído em água de banho, misturado com vinho, como líquido para limpeza bucal, entre outros. A variedade de frascos de perfumes no século XVIII era tão larga quanto à de fragrâncias e os seus usos. O vidro tornou-se crescentemente popular, particularmente na França com a abertura da fábrica de Baccarat em 1765.
Logo, envasar tornou-se muito importante. François Coty, fabricante de perfumes, formou uma sociedade com Rene Lalique. Lalique produziu garrafas para Guerlain, D'Orsay, Lubin, Molinard, Roger & Gallet e outros. Baccarat juntou-se então, produzindo frascos para Mitsouko (Guerlain), Shalimar (Guerlain) e outros. A fábrica de vidros Brosse criou a memorável garrafa para o Jeanne Lanvin's Arpege.
O nome da fragrância sempre oculta um significado a mais. É o caso do perfume Shalimar, batizado em referência a Shalimar Gardens, no Paquistão. Os jardins preferidos de Mumtaz Majal, a esposa amada de Shah Jahan, o princípe indiano que construiu o suntuoso mausoléu Taj Mahal como prova de seu amor pela sua falecida mulher. Uma história de amor serviu de inspiração para a criação do perfume, que traz em seu nome o significado: casa de amor.
A fama das renomadas essências correu o mundo, seduzindo milhares de pessoas. Em 1921, Couturier (Coco) Gabrielle Chanel lança a própria marca de perfumes, criada por Ernest Beaux. Ela o batiza de Chanel N° 5 porque era o quinto em uma linha de fragrâncias que Ernest Beaux a apresentou. Ernest Beaux foi o primeiro perfumista a usar aldeídos regularmente em perfumaria.

Mas vamos voltar um pouco no tempo. Em 1919, a Gerlain lança o eternamente famoso perfume Mitsouko. Seu nome é inspirado na heroína do livro La Bataille, um romance ambientado no Japão durante a Guerra Russo-Japonesa, que narra uma história de amor entre um oficial da Marinha britânica e uma japonesa chamada Mitsouko, esposa do Almirante Heihachiro Togo. Tanto o marido quanto o amante vão para a guerra, enquanto Mitsouko aguarda para ver qual dos dois irá voltar vivo para ela.
Os anos de 1930 viram a chegada da família de fragrâncias de couro. As florais também ficaram bastante populares com o aparecimento do Worth's Je Reviens (1932), Caron's Fleurs de Rocaille (1933) e Jean Patou's Joy (1935). Greta Garbo, Katharine Hepburn e Jean Harlow dominavam as telas de cinema.
Contrariando os tempos de crise, o estilista Jean Patou lançou o perfume mais caro do mundo: Joy. Um gesto típico de seu espírito generoso e audaz, uma reação à quebra da Bolsa de Nova York em 1929. A suntuosa fragrância foi oferecida como um dom para os seus amados clientes americanos; um hino à vida naqueles tempos difíceis. Inalterado desde 1930, a deliciosa combinação de rosa e jasmim se tornou a assinatura registrada de Jean Patou.
Já na década de 40, Paris era a capital do luxo e Nova Iorque ditava o contemporâneo. Hollywood virou a fábrica de sonhos. Os cabelos de Rita Hayworth inspiravam a moda. Preços nas alturas, falta de matérias-primas - é a guerra. Como reagir? Com luxo, claro! )
Em 44 Marcel Rochas, o costureiro favorito das estrelas de Hollywood (Jean Harlow, Marlene Dietrich e Mae West, com seu espartilho de renda chantilly preta) lança o sensualíssimo Femme, um aroma "picante". Mas há espaço também para o romantismo: o mítico floral L'Air du Temps, de Nina Ricci, em frasco criado por Lalique - é considerado um dos cinco maiores sucessos da perfumaria. Outro clássico, Miss Dior, inspirado no New Look lançado por Christian Dior (1947), marca a volta ao luxo.
Então veio o apogeu. Nos anos 50 a sofisticação e a inocência de Audrey Hepburn foram traduzidas no perfume L'Interdit.
Chanel nº5 ganharia a mais célebre das garotas-propaganda, que confessava dormir apenas com algumas gotas do perfume: Marilyn Monroe. Nos chamados anos dourados, destacam-se os florais frescos como Dioríssimo, de Dior, com seu cheirinho inocente de lírio do vale. Contrariando as expectativas, surge o primeiro grande perfume americano - Youth Dew, de Estèe Lauder, com o provocativo slogan "o mais sexy do mundo". Saias amplas, twin sets de banlon, meias soquete, mulheres comportadíssimas. Na Franca, a Lancôme contra ataca com o luxo: Magie vem num frasco com lantejoulas e o floral-frutal Trésor, em forma de um enorme diamante.
Grandes conglomerados empresariais passam a desenvolver novas tecnologias químicas e pesquisas minuciosas com produtos sintéticos e/ou semi-sintéticos, agregados sempre a resinas e matérias primas naturais, oferecendo aos perfumistas a mais variada gama de misturas e purezas para a criação de novas fragrâncias e novas tendências.
Mas a grande revolução ainda estava por vir. Minissaia, o homem vai à Lua, os estudantes saem às ruas. Embalada pelo festival de Woodstock, uma nova cultura jovem determina o conceito.Eram os anos 60. Com o movimento hippie, destacam-se os aromas a base de patchoully (qualquer semelhança com a “queimação de incenso” inerente à época, não é mera coincidência). Em contrapartida a burguesia só usa Y, de Yves Saint Laurent, um mix de frescor e suavidade. As vendas de Chanel nº5 (que agora também contava com Ali Mac Grow e Catherine Deneuve como garotas propaganda) vão às alturas. Madame Rocha, Calèche, de Hermès e Calandre, de Paco Rabanne, arrasam no hit parade.
Já nos “tempos modernos”, no auge dos anos 70, quando milhões de mulheres clamam por igualdade de direitos e queimam sutiãs, os frascos tomam formas mais geométricas, os perfumes são mais densos e agressivos e as campanhas de publicidade tornam-se mais reais como a de Rive Gauche, de Yves Saint Laurent, com mulheres nas ruas, vivas e imprevisíveis. Dona de seu corpo e de seu nariz, a mulher conquista mais independência (não vamos discutir aqui a tal revolução feminista novamente...). Na época quem não usasse o provocante Opium, de Yves Saint Laurent, estava "por fora". Em 73, Estèe Lauder lança seu Private Collection (o preferido da princesa Grace, de Mônaco). Outros sucessos: o suave e romântico Anais Anais (mix de flores de laranjeira, jasmim e rosas) de Cacharel, e First (Van Cleef & Arpels). Em 75, aparece o primeiro perfume prêt-à-porter, Chloé, num frasco de vidro jateado, inspirado nos anos 30.
Nos conturbados anos 80, os Yuppies ditam as regras, cultuando o corpo, impelindo o público feminino cada vez mais à beleza e ao poder. É o momento das fragrâncias fortes como Poison, Giorgio e Must de Cartier. Os frascos tem formas assimétricas e desestruturadas. Parfum de Peau, de Claude Montana(86), é uma "tatuagem olfativa" - o chipre, com almíscar, sândalo e patchouli "gruda" na pele. Mas adivinhe quem era o líder em vendas mundiais em 1985? Anais Anais. Que aliás tem uma história bem interessante: o perfume é uma homenagem póstuma à célebre escritora Anais Nin.
Então chegamos aos anos 90. É a vez de uma geração de estilistas irreverentes e isto se reflete no mundo dos perfumes como com o frasco-busto em forma de espartilho, de Jean Paul Gautier. A corrente da nova era traz um cheiro de ozônio. Escape, de Calvin Klein, Dune e Eden. Mas o hit dos anos 90 é, sem dúvida, CK One!
O cinema colaborou muito para a eternização dos chamados perfumes clássicos.
No filme “Perfume de Mulher”(1992), o ator Al Pacino interpreta um coronel cego capaz de identificar o perfume usado pelas mulheres que encontra e determinar por eles a sua personalidade. Há uma cena muito bonita em que ele reconhece o perfume que sua falecida esposa usava em outra mulher. “Ah, seu perfume é Fleur de Rocaille.”
Os outros que me perdoem mas a melhor definição que já li até hoje sobre o poder do perfume, foi a de Coco Chanel:
"O perfume anuncia a chegada de uma mulher e prolonga a sua saída".


Só por curiosidade, dá uma olhadinha nessa lista. São os perfumes mais caros do mundo:

1. Imperial Majesty, de Clive Christian: US$ 215.000 (R$ 465 mil)
2. Clive Christian No. 1: US$ 2.150 (R$ 4.640)
3. Poivre Caron: US$ 2.000 (R$ 4.315)
4. Chanel - Chanel No. 5: US$ 1.850 (R$ 3.990)
5. Baccarat - Les Larmes Sacrées de Thebes: US$ 1.700 (R$ 3.655)
6. Annick Goutal - Eau d’Hadrien: US$ 1.500 (R$ 3.225)
7. Hermès - 24 Faubourg: US$ 1.500 (R$ 3.225)
8. Shalini Parfums - Shalini: US$ 900 (R$ 1.935)
9. Jean Patou - Joy: US$ 800 (R$ 1.720)
10. JAR Parfums - Bolt of Lightning: US$ 765 (R$ 1.645)

22 comentários:

casa da poesia disse...

perfume!...hum!...e para ti...

"Ima phuyun jaqay phuyu..."

saludos!

X disse...

Que postagem cheirosa é essa, menina?!
Adorei a frase
"O perfume anuncia a chegada de uma mulher e prolonga a sua saída"
uaau muito boa
bjuus

Moisés Prado disse...

Poxa q interessante!! nossa, uma verdadeira aula sobre os perfumes!! parabens!!...

a frase final é demais, "O perfume anuncia a chegada de uma mulher e prolonga a sua saída".

"Imperial Majesty", que cheiro terá hein?! rsrs...

passa la no Diz ai,
acabei de atualiza-lo!!

http://moisesprado.blogspot.com/

te+ bjao

Ray disse...

Deu para sentir o cheirinho daqui...
Delícia de texto.
Bjs

Samiara disse...

Nunca imaginei que perfume fosse tudo isso.
Muito bom.
Bjs

Tais Luso de Carvalho disse...

Oi, Bárbara, que texto didático! É uma verdadeira aula. Gostei porque tem começo, meio e fim! Quero dizer com isso que vi onde e como 'a criança' nasceu. Já posso dizer que sei um pouco de perfumes, mas não tanto como tu...
Gostei da lista dos 'mais', também.

Bem, estou levando meu selinho, muito obrigada.

Um beijo
tais

Elvira disse...

Cetissima, perfume é tudo de bom.

Bibi, pode ser? disse...

Eu sou MUITO enjoada com perfumes. Como sou alérgica, a maioria deles me faz mal. No dia-a-dia uso lavanda Jonhsons e para noite, uso Boucheron.
O olfato é dos nossos sentidos mais primitivos. Ele remete a memórias fantásticas. Basta um cheiro para desencadear lembranças boas ou ruins. O perfume de alguém é algo muito marcante. Acho fantástico como nosso cérebro processa e cruza informações, fazendo com que um perfume desperte um emoção, nos remeta a um sabor, nos traga uma lembrança visual e até mesmo um som. Repare que isso não é possivel na mesma intensidade com nossos outros sentidos!

Katita disse...

Adorei.Não sabia nada idsso sobre perfumes.

Bruno disse...

Fico imaginando o que tem na cabeça deuma pessoa que usa um perfume de mais de 400 mil reais. Bom, na carteira com certeza deve ter muito dinheiro. Ótimo Post.
Valeu.

Cássia Martins disse...

Dá para sentir o cheiro do post.........kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
lindo.

Ada Pelietre disse...

Perfume forever.
O aroma é tudo na sedução.
Muito bom, Barbara.

Katy disse...

Me deliciei com toda essa história perfumada.

Gisel disse...

Falou tudo e nem esqueceu do Perfume de Mulher...

Angélica disse...

Que cheirinho doce!

Neném disse...

Mulher, sem perfume não existe. Os homens que me desculpe, mais isso ainda é pro nosso gosto, viu?

Pit disse...

Uma palvra: Fabuloso.

Marole disse...

Muito bacana...

Flores disse...

interessante mesmo!

Pam disse...

Passando para dar um oiiiiiii
:)
Bjokas

Luíis disse...

Muita gente já falou mas eu vou enmendar....que postagem cheirosa...ahahahahah

Camila disse...

Gostei deste post porque pode aprender coisas novas. Perfumes são muito caros, mas há também a perfume barato e muito bom. Eu gosto de perfumes cacharel. Beijos

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